No TikTok, alerta-se para o termo “runner’s face” ou “rosto de corredor”. Segundo os vídeos partilhados, praticar corrida acelera o envelhecimento da pele e causa rugas. Isto acontece porque, sugere-se, correr “diminui a gordura subcutânea” e “aumenta a flacidez, principalmente nas bochechas e ao redor dos olhos”. Será mesmo assim? O “rosto de corredor” existe ou é um mito?
É verdade que correr acelera o envelhecimento da pele e causa rugas?
Em declarações ao Viral, Ricardo Vieira, dermatologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), adianta que “não existe qualquer base científica que relacione diretamente a prática da corrida com o envelhecimento cutâneo, desde que, durante a prática desta forma de exercício, se tenham cuidados adequados de proteção solar”.
Aliás, continua o especialista, “a designação ‘runner’s face’ é de cariz meramente popular” e refere-se à “tendência dos corredores de fundo de possuírem menor espessura de gordura subcutânea, o que lhes poderá conferir uma menor volumetria do rosto, com acentuação das feições”.
Mas este conceito “não corresponde a nenhuma entidade medicamente reconhecida e confunde um menor volume facial com envelhecimento da pele, que não são a mesma coisa”, esclarece.
Ricardo Vieira explica que “há dois tipos de envelhecimento cutâneo: um de cariz intrínseco ou cronológico, determinado geneticamente pela passagem do tempo, e outro extrínseco, determinado pela exposição a fatores ambientais”.
A exposição à radiação solar “é o principal fator ambiental relacionado com o envelhecimento extrínseco, atuando cumulativamente ao longo do tempo”, sublinha. Provoca “rugas profundas, flacidez cutânea, hiperpigmentação” e aumenta o risco de cancro de pele.
Por isso, em contexto de corrida ao ar livre, o que pode causar o envelhecimento da pele é a exposição ao sol (sobretudo desprotegida) e não o tipo de atividade física em si.
Por outro lado, “o exercício aeróbico que decorra em espaços interiores não tem nenhuma relação com o envelhecimento da pele”, porque não há exposição ao sol.
De facto, “corredores de longa distância tendem a ter alguma perda de gordura subcutânea e isso pode, na verdade, afetar a aparência do rosto, ao conferir-lhe um menor volume e feições mais marcadas”, adianta Ricardo Vieira.
Contudo, “isso não se traduz em qualquer impacto no que respeita ao envelhecimento da pele”.
Ao contrário do que se dá a entender nos vídeos partilhados, a prática de exercício físico como a corrida tem um impacto positivo na pele. “É um indutor da síntese do colagénio e promove uma inibição do stress oxidativo, contribuindo favoravelmente para a saúde e aspeto da pele”, defende o médico.
Quais os cuidados a ter com a pele quando se pratica corrida?
Quando se pratica corrida, em termos de saúde da pele, é essencial “procurar correr com vestuário protetor, incluindo chapéu/boné, evitar as horas de maior intensidade dos raios UV e usar regularmente protetor solar nas áreas expostas”, avança Ricardo Vieira.
Num texto informativo da Associação Americana de Dermatologia (AAD) também se reforça a importância de usar sempre protetor solar quando se pratica exercício físico ao ar livre e de, sempre que possível, preferir locais com sombra.
“Se estiver a fazer uma longa sessão de exercícios físicos, como um treino para uma maratona, será necessário reaplicar o protetor solar a cada duas horas ou após nadar ou suar”, recomenda-se no mesmo texto.
No inverno, treinar no frio “faz com que a pele fique gretada e queimada pelo vento”. Por isso, além do protetor solar, aplicar um hidratante também ajuda a proteger a pele dessas agressões.
Outra dica importante é evitar correr com maquilhagem. “O suor misturado com a maquilhagem é muito mais prejudicial para a pele, porque os poros ficam ‘entupidos’ antes mesmo do treino começar”, por isso “é melhor lavar o rosto com um produto de limpeza suave” antes de praticar qualquer exercício físico.
Após a corrida, é fundamental limpar a pele. A forma mais eficaz de o fazer é tomar banho. Se não for possível fazê-lo de imediato, é aconselhável que, pelo menos, “lave o rosto com um produto de limpeza suave e não comedogénico”, refere-se no texto da AAD.

