Apesar de os medicamentos terem um ou vários propósitos terapêuticos, têm também o potencial de causar efeitos adversos. A ocorrência destes efeitos depende não só do medicamento em si, mas também de vários fatores relacionados com a suscetibilidade individual e com o contexto da toma. É verdade que não se deve conduzir sob o efeito de certos medicamentos? Que medicamentos são esses? Quais os cuidados a ter?
É verdade que não se deve conduzir sob o efeito de certos medicamentos?
Sim, a toma de determinados medicamentos pode prejudicar as capacidades “fundamentais para a prática de uma condução segura e para a prevenção de acidentes rodoviários”, sublinha-se num texto informativo publicado no site do Infarmed.
Alguns fármacos “podem provocar uma diminuição da atenção, da concentração, dos reflexos, das capacidades visuais e de raciocínio ou da coordenação motora e um aumento do tempo de reação do condutor”, explica-se.
Muitas vezes, isto é agravado pelo facto de “as pessoas não se aperceberem que têm essas capacidades alteradas”, acrescenta-se.
Alguns medicamentos “podem afetar a condução por um curto período após a sua ingestão”, mas os efeitos de outros “podem durar várias horas e até mesmo até ao dia seguinte”, sublinha-se num texto da FDA, a agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos.
Há, inclusive, fármacos que “têm uma advertência para não conduzir qualquer tipo de veículo (por exemplo, carro, motocicleta, scooter elétrica, barco, camião, autocarro ou comboio) ou operar outras máquinas pesadas por várias horas após a ingestão do medicamento”, lê-se no mesmo texto.
Devo ter atenção a que medicamentos?
Há vários medicamentos que têm o potencial de tornar a condução perigosa. A FDA dá destaque a: “antipsicóticos”; “antiepiléticos”; certos estimulantes; “alguns antidepressivos”; “medicamentos que tratam ou controlam os sintomas de diarreia ou controlam a urina”; medicação para o enjoo; “relaxantes musculares”; “opioides”.
Também se deve ter especial atenção em relação a comprimidos para dormir, já que alguns podem pôr em causa a segurança da condução “mesmo na manhã seguinte” à toma, refere-se.
Além disso, os anti-histamínicos também “podem interferir na condução”, pois podem “diminuir o tempo de reação, dificultar a concentração ou o raciocínio claro e causar uma leve confusão, mesmo que não se sinta sonolência”.
Produtos que “contêm canábis ou compostos derivados da canábis, incluindo CBD”, podem “causar sonolência e alterações no estado de alerta”, o que torna a condução perigosa.
Se estiver na dúvida sobre se é seguro conduzir sob o efeito de um medicamento específico, pode informar-se junto de um profissional de saúde e/ou ler o folheto informativo.
Segundo o Infarmed, por norma, estes efeitos estão descritos na secção 2 do folheto. Não deve conduzir se ler algum dos seguintes avisos: “Este medicamento pode causar sonolência e pode aumentar os efeitos do álcool” ou “este medicamento pode afetar a vigilância mental e/ou a coordenação motora”.
Caso não tenha o folheto informativo, pode obter “mais informação sobre os medicamentos que interferem na condução” no site do Infarmed, em “Prontuário Terapêutico”.
Quais os cuidados a ter?
Em primeiro lugar, é importante cumprir as doses e os horários prescritos, defende a Ordem dos Farmacêuticos, num texto.
“Quando iniciar um novo medicamento que possa influenciar a condução, deixe o seu corpo adaptar-se aos seus efeitos, antes de voltar a conduzir”, lê-se.
Enquanto estiver a tomar este tipo de medicamento “evite a ingestão de bebidas alcoólicas, bebidas energéticas e outros produtos, mesmo que sejam naturais, pois podem potenciar os efeitos secundários dos medicamentos e aumentar o risco para um acidente de viação”.
Segundo o Infarmed, as pessoas idosas devem ter particular atenção neste contexto. “Os medicamentos atuam de forma diferente de pessoa para pessoa”, mas “com o avançar da idade, deve ter-se um especial cuidado com os efeitos secundários dos medicamentos na condução”, explica-se no texto do Infarmed.
No mesmo sentido, os trabalhadores por turnos que conduzem “devem ter um especial cuidado com o uso dos medicamentos, particularmente com os psicotrópicos, devido à irregularidade dos períodos de sono que pode agravar os efeitos secundários destes medicamentos”, acrescenta-se.
Se tomar um medicamento que tem o potencial de interferir na sua capacidade de conduzir com segurança, “conduza apenas se sentir que pode fazê-lo em segurança”, aconselha o Infarmed.
Caso sinta efeitos secundários “que possam afetar a condução, não conduza sem falar com o seu médico para, eventualmente, substituir o medicamento”, recomenda a Ordem dos Farmacêuticos.
De acordo com um documento do Infarmed, alguns sinais de que não deve conduzir sob o efeito de certos medicamentos são: “fadiga, sonolência, cansaço, confusão mental, vertigens, tonturas ou sensação de cabeça vazia”.
Ainda, não conduza se tiver “perturbações da perceção, especialmente da visão”, “náuseas ou mal-estar, tremores, alterações da coordenação motora” e “movimentos involuntários”.
Ter “dificuldade em pensar claramente ou em concentrar-se” e sentir “irritação ou agressividade” também são sinais de alerta, tal como experienciar um “excesso de confiança” ou ter uma “perda da noção de perigo”, acompanhada, muitas vezes, de “irregularidades na condução”, aponta-se.

