Entre vídeos em que os influenciadores digitais mostram tudo o que comem num dia e publicações com dicas de dietas e receitas saudáveis, a alimentação é um dos tópicos mais populares nas redes sociais. No meio de tanta informação, distinguir o que é credível do que é falso pode ser um desafio.
A pensar nisso, e a propósito do Dia Mundial da Alimentação, o Viral reuniu 5 mitos comuns sobre esta matéria.
Mito nº 1: O glúten é prejudicial não é saudável
A demonização de determinados alimentos ou dos seus constituintes é um elemento comum a várias fake news que circulam nas redes sociais. Exemplo disso são as diversas alegações sobre os supostos malefícios do glúten para a saúde da população em geral.
Numas publicações diz-se que esta proteína presente em vários tipos de cereais, como o centeio e o trigo, é o responsável por problemas como o excesso de peso, noutras escreve-se que não existe nenhum intestino que aceite glúten e que esta proteína causa alergia e inflamação a todas as pessoas.
Embora sejam muito populares, estas ideias não têm fundamento, tal como explicava Ana Célia Caetano, gastroenterologista no Hospital de Braga, professora da Escola de Medicina da Universidade do Minho e investigadora no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho, em declarações anteriores ao Viral.
Questionada sobre se o glúten causa alergia a todas as pessoas, a especialista adiantava que apenas os doentes com diagnóstico confirmado de doença celíaca podem ser considerados como tendo uma “resposta imunológica ao glúten”.
Quando uma pessoa com doença celíaca ingere glúten, o organismo produz anticorpos que vão danificar o revestimento interno do intestino delgado. Por isso, seguir uma dieta sem glúten é obrigatório, nestes casos.
Além disso, existem ainda as pessoas com intolerância ao glúten, em que a ingestão de determinadas quantidades desta substância pode originar alguns “sintomas de desconforto e diarreia”, embora não provoque dano intestinal.
Nesses casos, as pessoas não têm obrigatoriamente de seguir uma dieta 100% livre de glúten, mas podem ser aconselhadas pelo profissional de saúde que as acompanha a reduzirem o seu consumo.
Para o resto da população, não há nenhuma indicação para eliminar os alimentos com glúten da alimentação. Aliás, tal como defendia o nutricionista José Camolas, substituir alimentos saudáveis com glúten (como o pão de centeio simples) por alternativas “gluten free” ultraprocessadas e ricas em gorduras e açúcar pode até ser prejudicial e contraproducente.
Mito nº2: Beber água às refeições engorda
Quando bebemos muita água durante uma refeição, é provável que, no final, nos sintamos mais pesados, porque o estômago está mais “cheio”. Mas isso não significa que beber água às refeições engorda.
O ganho de gordura dá-se quando o consumo calórico excede o gasto energético, ou seja, quando ingerimos mais calorias do que as que gastamos. Como a água não tem calorias, o seu consumo durante as refeições não vai levar ao aumento da gordura corporal.
Importa sublinhar que, tal como explicamos neste artigo, engordar e ganhar peso não são necessariamente sinónimos. Se nos pesarmos antes e depois de uma refeição, o mais provável é que o número na balança suba. E isso não significa que tenha havido ganho de gordura, mas sim um aumento temporário de peso devido ao volume de alimentos e líquidos ingeridos.
Mito nº3: Sumos detox queimam gordura e limpam o organismo
Feitas com diferentes combinações de frutas, hortícolas e especiarias, as receitas de “sumo detox” para “queimar gordura” e “limpar o organismo” são uma constante nas redes sociais.
Há quem, inclusive, sugira a toma diária, em jejum, deste tipo de preparados ou até recomende dietas líquidas de vários dias que têm por base a toma quase exclusiva deste tipo de sumos.
No entanto, não há evidência científica que suporte estas alegações. Ou seja, não há provas de que um algum alimento ou bebida, por si só, leve à queima de gordura ou à desintoxicação do organismo.
Tal como explicámos em vários artigos do Viral, para o corpo queimar gordura é necessário criar um défice calórico – ou seja, gastar mais calorias do que as que consome. Nesse sentido, não existe nenhum alimento ou bebida que, isoladamente, induza a perda de gordura sem que haja um défice calórico.
Já no que diz respeito à desintoxicação do organismo, esta é feita pelo próprio corpo, nomeadamente através da pele, dos rins, do fígado, dos pulmões e do sistema gastrointestinal, tal como a nutricionista Marlene Morgado esclareceu em declarações anteriores ao Viral.
Mito nº4: Devo lavar o frango e as outras carnes antes de as cozinhar
Lavar o frango (ou outro tipo de carnes) antes de o cozinhar é uma prática comum em muitas casas, mas desaconselhada pelos especialistas e autoridades de saúde e segurança alimentar.
Por exemplo, no site do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla inglesa), escreve-se que lavar a carne antes de a cozinhar aumenta o risco de “contaminação cruzada”, ou seja, aumenta a probabilidade de as bactérias presentes na carne crua se espalharem para outros alimentos, utensílios e superfícies, contaminando-os.
Como a contaminação cruzada ocorre, sobretudo, quando se manuseia “carne crua, aves, ovos e marisco”, estes alimentos devem ser mantidos longe de outros “já cozinhados”, “frescos”, ou “prontos para consumo”.
Mito nº5: Os hidratos de carbono são proibidos para quem quer emagrecer
Os hidratos de carbono são apresentados, muitas vezes, como “inimigos da dieta” e há quem considere que, para perder peso, é necessário eliminá-los da alimentação.
No entanto, esta ideia não tem fundamento, já que é possível perder peso sem cortar, por completo, os alimentos que contêm hidratos de carbono.
Recorde-se que, tal como referimos nos pontos acima, para haver emagrecimento é necessário consumir menos calorias do que as que se gasta (défice calórico). Por isso, desde que se mantenha este balanço energético negativo, é possível incluir hidratos de carbono na alimentação e, ainda assim, perder gordura.
Importa sublinhar que existem diversos alimentos saudáveis (como frutas, legumes, cereais integrais e leguminosas) que contêm hidratos de carbono, um macronutriente essencial para o bom funcionamento do organismo.
Os hidratos de carbono são a principal fonte de energia do corpo humano, sendo fundamentais para o funcionamento cerebral e para a prática de atividade física.
Nesse sentido, eliminar este grupo de alimentos pode levar a carências nutricionais e resultar, por exemplo, em falta de energia, diminuição do rendimento físico e mental, e até dificultar a adesão a longo prazo a um plano alimentar saudável.
Por: Sara Beatriz Monteiro

