A obsessão pelo perfeccionismo está a esgotar-nos, minando a nossa saúde mental e comprometendo todas as áreas da vida. O psicólogo Thomas Curran revela como esta “epidemia silenciosa” se enraíza, alimentada por padrões inatingíveis e na procura incessante pelo sucesso.

No livro editado em Portugal, Thomas Curran, psicólogo inglês, lança-nos algumas perguntas sintetizadas na sinopse à obra: “Sente uma sobrecarga grande, quase todos os dias, no trabalho e não só? Uma pressão enorme para atingir expectativas surreais?”. O doutorado em psicologia e professor universitário na London School of Economics deixa-nos uma advertência caso a resposta às duas perguntas atrás enunciadas seja um “sim”. “Estamos a cair na armadilha da perfeição, um dos maiores males do século XXI. Esta obsessão – que compromete a nossa a saúde mental e tem efeitos em todas as áreas da nossa vida – é uma epidemia que se está a alastrar e que, na verdade, nos impede de alcançar os nossos verdadeiros objetivos”.

Em A Armadilha da Perfeição (edição Presença), o autor baseia a sua prosa em investigação alargada sobre o tema (resultados de estudos psicológicos, registos de casos clínicos, dados económicos, etc.) e inclui exemplos reais. Thomas Curran revela ao leitor que o perfeccionismo nos passa uma rasteira e “compromete a nossa existência, individual e socialmente”. O psicólogo também nos apresenta um caminho de libertação, ou se preferirmos, um travão na pressão que nos é imposta e que nos impomos. Entre as medidas sociais defendidas pelo autor está a implementação de um rendimento básico em substituição da segurança social: “O rendimento básico aumenta a liberdade pessoal”. O especialista em perfeccionismo também olha para a economia global e sublinha: “O crescimento descontrolado está a destruir-nos, a nós e ao planeta”. Linhas de pensamento que Thomas Curran também levou para a sua TED Talk “Our Dangerous Obsession With Perfectionism is Getting Worse”, palestra que conta com mais de três milhões de visualizações online.

Escreve o autor no prólogo ao seu livro: “Cada um de nós, habitantes do Ocidente, vive no interior de uma cultura fabricada por fantasias perfeccionistas. Tal como uma simulação holográfica de uma realidade exagerada, trata-se de um lugar em que imagens estáticas e em movimento, de vidas e estilos de vida perfeitos irradiam em outdoors, ecrãs de cinema, televisões, anúncios e feeds de redes sociais. Cada uma delas demonstrando-nos que teríamos uma vida feliz e bem-sucedida se fôssemos perfeitos (…) o perfeccionismo vive no nosso interior através de uma insegurança persistente e inabalável. Insegurança em relação que que não temos, à nossa aparência e ao que não alcançámos”. Para Thomas Curran vivemos hoje “uma obsessão pelo crescimento ilimitado e uma ânsia por mais a qualquer custo”. Vivemos, por isso, “assombrados por epidemias de esgotamento, ou burnout e de sofrimento psicológico”, enfatiza o psicólogo e acrescenta que “quanto mais fundo cairmos na armadilha da perfeição da nossa cultura, mais o perfecionismo irá esvaziar as nossas vidas de vitalidade”.

Da obra, publicamos o excerto abaixo:

O que não nos mata… Ou porque provoca o perfeccionismo tantos danos à nossa saúde mental

“Escrevi durante toda a manhã com infinito prazer, o que é estranho, porque estou sempre ciente de não haver razão para ficar satisfeita com aquilo que escrevo, e que daqui a seis semanas,ou mesmo dias, irei odiá-lo”.

Após dois copos de cerveja à conversa com Paul e Gord, já eu estava embrenhado nos meus pensamentos. Aquilo que disseram fez-me questionar o que nos faz, ao certo, o perfeccionismo, em parte por eu ser uma das muitas pessoas presas na sua armadilha. Queria saber por que razão estes homens tinham uma visão tão superficial do perfeccionismo, por que razão as suas reflexões iluminadas pareciam pressagiar uma viragem sombria na nossa conversa.

Perguntei-lhes:

– Qual é exatamente o problema do perfeccionismo?

Eles fundamentavam as suas preocupações no facto de, em sua opinião, o perfeccionismo se esconder sob a superfície das perturbações mentais.

– Se quisermos saber porque é que tantos jovens têm problemas hoje em dia — observou Paul—, teremos de levar o perfeccionismo em consideração.

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